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Três Anúncios Para um Crime (2017)

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Em tempos em que a tolerância e a resiliência são palavras de ordem para a convivência social e em comunidade, “Três Anúncios Para Um Crime” vem como uma patrola esmagando conceitos e dando liberdade àqueles que nada tem mais a perder neste mundo. Aos bons de coração e inertes ao mundo que os rodeia, o filme é o espelho de uma sociedade torta e que se enverga ao considerado mundano e consciente de que alguma coisa deve ser feita.

A história nos apresenta a Mildred Hayes, uma senhora extremamente ferida pelo estupro e assassinato brutal de sua filha. Descontente com as atitudes completamente relapsas da polícia na busca de um culpado, ela então decide tomar uma atitude extremamente inédita em se tratando da cidade pequena onde mora: aluga três outdoors em uma estrada próxima a sua casa. A repercussão é imediata tanto na cidade quanto nas redondezas, atraindo inclusive veículos de comunicação de outras localidades próximas. Porém as consequências acabam atingindo outras pessoas, incluindo o Delegado Bill Willoughby, responsável direto pela investigação.

Dizem que não há dor maior na vida de um ser humano do que a perda de um filho. Pois Frances McDormand consegue traduzir e mostrar nas telas durante todo o filme a angústia e força armazenada na personagem principal. Com um humor negro indefectível, sem ser agressivo e impactando a cada diálogo ela segue abalroando aqueles que seguem frente ao seu caminho: mas tudo tem um custo.A atriz consegue oscilar da comédia ao drama quando contracena com Peter Dinklage (o Tyrion Lannister de “Game of Thrones), por exemplo.

Outro contraponto da história é o delegado interpretado por Woody Harrelson que se vê em uma sinuca quando os anúncios são expostos. Ciente de um câncer que o consome rapidamente ele tenta resolver as situações a sua maneira. Dócil com as filhas e esposa, e feroz quando dentro de um uniforme o ator consegue dosar o peso do personagem sem ficar tão estereotipado ao ponto de o público não conseguir definir se o ama ou odeia. Um papel para poucos.

A grande surpresa em termos de elenco é a atuação de Sam Rockwell: um nojento policial com trejeitos abobados e violentamente brutal quando contrariado. O personagem cresce a cada cena tornando-se fundamental na trama até o final. O crescimento do ator não é de hoje, como já reconhecido em outros filmes e tendendo a buscar um revés mais dramático valorizando seus papéis anteriores.

A trinca de atores é o plano chave do diretor Martin McDonagh para fazer uma história que parece morna, aquecer a ponto de fervilhar a emotividade do público. O elenco suporta o peso sem maiores problemas fazendo o hilário e o singelo parecerem confortáveis dentro de um roteiro simples e inteligível. A capacidade de atuação dos três é tão forte que foram indicados ao Oscar 2018. É difícil levarem todos pois concorrem com outros monstros consagrados do cinema. Mas não é impossível.

Talvez vocês possa esperar muito mais de um concorrente ao Oscar com tantos talentos a disposição, ou uma direção mais contundente. Porém talvez a ideia seja justamente criar um ambiente de crítica tão corrosiva ao ponto de tentarmos entender o filme dentro de nossos próprios conceitos. Afinal qual atitude tomar diante da reação explosiva e consequente? A dor é mais suportável que a perda? E para quem não tem mais o que perder, quanto custa? Talvez uma obra que se torna tão necessária em nosso país frente a quantidade de ombros dados ao que vemos diariamente em nosso cotidiano.

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