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Ponto Zero (2016)

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Cinezone Poster - Ponto Zero

“Pode falar tudo que quiser aqui, né? – Sim. Só não pode mentira e palavrão… – Então eu queria falar do espaço, sim e de uma espaçonave. – E não é chato? Aquilo tudo escuro, cheio de pontos brilhantes no céu, e o pior: infinito?” E com uma gigantesca metáfora “Ponto Zero” se apresenta ao seu público: uma obra causticante e ao mesmo tempo cheia de nuances líricas, uma história simples e didática, sendo ao mesmo tempo contundente e lépida ao ponto de deixar o espectador mais desinteressado no mínimo com um bom número de interrogações.

O protagonista é o menino Ênio, um pré-adolescente que como todos os outros começa a descobrir dentro e fora de casa que a viva não é tão simples como parece, e que o refúgio do lar pode não ser o melhor abrigo, nem mesmo a rua pode vir a ser tão perigosa. A relação com os pais é distante e ao mesmo tempo claustrofóbica: de longe ele assiste um casamento em ruínas onde sem querer acaba sendo um pivô sem ação prática, onde se bate sem querer e se quebra sem notar. As coisas que vão acontecendo ao seu redor vão sempre tomando proporções gigantescas e metamórficas as vezes chegando nem sempre a um final esperado.

A construção de “Ponto Zero” é de primeiríssima linha tanto no técnico quanto no lúdico. O diretor José Pedro Goulart não inova tecnicamente, mas traz de volta o cinema clássico e cult onde o pensar é mais importante do que agir, onde o interpretar o que foi dito é uma difícil missão pois as variáveis são infindáveis. A psicanálise é seu maior triunfo, com um trabalho de imersão dos personagens (que não sabem que estão imersos). O experimentalismo também está presente na obra uma vez que os atores recebiam seus scripts apenas momentos antes das cenas serem gravadas.

Todo gravado em Porto Alegre chega a lembrar o início de Jorge Furtado, onde a crítica social era profunda (“Ilha das Flores” e “O Dia em que Dorival Encarou a Guarda” – também de Goulart), tendo passagens pela Avenida Farrapos, Voluntários da Pátria, dentre outras que trazem o pulsante Bairro Floresta no coração. Goulart nos aponta uma capital de altos e baixos, uma cidade que pode ser de sexo ou de poesia, do sebo nas canelas ou do simples caminhar a esmo. Capital da educação privilegiada nas escolas e da ignorância provinciana no trânsito caótico. Literalmente colocam a capital de todos os gaúchos “de ponta-cabeça”.

Um filme com um “Ponto Zero” no nosso cinema gaúcho. Uma vontade de fazer cinema e mostrar como se faz, para que gosta e para quem quer gostar de um cinema realmente bem feito, com amor e dedicação trabalhada no âmago das artes que a tela deve trazer.

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